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Confiança

  • Foto do escritor: Sandra Brandão
    Sandra Brandão
  • 19 de jun. de 2024
  • 2 min de leitura

“O Direito com Alma parte da possibilidade de construção a dois, e não da proteção de cada um”.


Essa frase foi dita por um de meus clientes que passou pela experiência de elaboração de seu contrato de forma colaborativa, isto é, com sua participação ativa em conjunto com outras partes, direta ou indiretamente afetadas por tal relação jurídica.


O interessante do caso é que se tratava de uma natureza contratual bem conhecida e que portanto poderia ter sido um instrumento feito rapidamente por mim, a partir de poucos dados que ele me forneceria.


Trouxe este contexto para que não pareça algo ordinário. Reunião, todos fazem. Desejo de criar colaboração, muitos o tem. Mas não se trata disso, é para além. É entender que a relação jurídica é impermanente, porque tudo assim o é, e que há diversas causas e condições interdependentes àquelas pessoas envolvidas no contrato, inclusive camadas internas, sendo que, muitas delas, talvez sequer possamos conhecer.


Elaborar contrato a partir do Direito com Alma, então, talvez seja sobre ter essa lente, entendendo que a busca pela segurança, pela proteção, pode ser ilusória e, assim, ter a coragem ou, no mínimo, a curiosidade de construir algo diferente, a partir da confiança.


Meu objeto de contemplação e investigação, então, passou a ser essa palavra: CONFIANÇA.


Será que as pessoas não são mesmo confiáveis? Será que esse “ser confiável” não estaria envolto em um véu que nubla a percepção, por se tratar de uma expectativa desplugada do caráter relacional? Ou da falsa esperança de que as coisas sejam fixas?


Será que se nutrirmos a relação, para além dos interesses individuais, criamos um espaço de segurança onde as camadas pessoais e a impermanência possam ser suportadas? Como, a partir de um instrumento escrito, apoiar as partes a se autorregularem e terem sabedoria para manter o equilíbrio da relação, rodeada por tantas causas e condições interdependentes e impermanentes?


Minha experiência, por enquanto, tem sido o encontro em diversas reuniões, com perguntas para além das, digamos, tradicionais, tomando o tempo necessário para que o contrato surja. Às vezes, para que o contrato não surja ou seja um resultado diferente do exposto no início da jornada.


Estive, por muito privilégio, 3 dias praticando estudos de paz com o renomado professor, detentor da cátedra de paz da UNESCO, Wolfgang Dietrich, e ele disse: “não é sobre good guy ou bad guy, mas sobre o que se pode fazer para tornar aquela relação algo bonito”. Sai o foco da narrativa, entra o apoio à relação. Repito esta frase, meio parafraseando-a, porque foi algo que ouvi e, assim, pode já estar transformada pela interdependência com a minha percepção, história e aspiração.


Por que isso é importante? Porque a prática do Direito com Alma tem por aspiração facilitar a confiança nas relações jurídicas. Não consigo vislumbrar um caminho sem a prática da confiança. Quero enfrentar este paradigma das multas, das punições, do medo e da proteção. Quero transformá-lo. Não que este cenário seja o certo e outros errados. Não há certo ou errado. Mas acredito que, para alguns, esse caminho faça muito sentido e quero estar a este serviço.


Mais uma frase do querido Wolfgang: “a paz é plural” e a “paz é relacional”. Brindo a isso!




1 Comment

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Guest
Jun 19, 2024
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A sua forma de fazer Direito é inspiradora. Que sigamos cada vez mais abrindo espaço para construir, além de relações jurídicas, relações humanas.


Um beijo!

Manoela.

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